TIMÓTEO – A chamada Capital do Inox completou nesta última quinta-feira (29) 46 anos de emancipação. Porém, 140 famílias que resistem heroicamente às condições mais adversas, há 11 anos, na Invasão do Bairro Limoeiro, não têm, absolutamente, o que comemorar. Vivendo numa situação de completa miséria, os moradores não dispõem de água encanada, instalações elétricas regulares ou mesmo qualquer infra-estrutura de saneamento básico. A precariedade é tamanha que muitos barracos continuam exatamente como foram erguidos, feitos de tábuas.
A dona de casa Marlene Aparecida da Cruz, 39, e o marido José Anacleto de Freitas, 58, integram uma das primeiras famílias a aderirem ao Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLMO), organizado por um casal oriundo de Rio Piracicaba. O MNLM é um movimento social e político brasileiro cujo objetivo é a obtenção da casa própria por meio de ocupações de imóveis ociosos em ambientes urbanos, em prol das famílias menos assistidas. O casal contou que seus filhos Jhonne Anacleto da Cruz, 18, e Patrício Anacleto da Cruz, 17, tinham respectivamente nove e sete anos quando foram morar em um barraco de tábua na primeira invasão do grupo, feita em uma área particular no Bairro Alegre.
Até então, a família morava de aluguel no próprio núcleo habitacional do Alegre. José relembra que aderiu ao movimento em 2 de junho de 1998, juntamente com outras 440 famílias. Dessas, 300 não resistiram às dificuldades e acabaram se mudando.
Acampamento no Alegre
Para abrigar as 440 famílias foram construídos barracos de lona e tábua, de quatro metros de largura por quatro metros de comprimento. Amontoados um ao lado do outro, sem espaço entre eles para comportar todos.
“A proposta era ficarmos seis meses. Os cômodos eram pequenos para abrigar eu, meu marido e filhos. Com o passar do tempo muitas pessoas desistiram de lutar e acabaram abandonando o acampamento. Os nossos líderes e o Geraldo Nascimento nos prometeram novas moradias. Mas após cinco anos eles abandonaram o acampamento e desde 2004 não há um líder que encabece o movimento”, descreve Marlene. Ela ficava em casa com os filhos enquanto o marido ia trabalhar como motorista na empresa Indústria e Comércio Eurides Maia (Isem).
Ainda de acordo com a dona de casa, não havia o devido respeito de alguns moradores da invasão. As brigas e confusões acabaram desarticulando a militância.
“Gatos” na avenida
Para abastecer as casas com energia elétrica, a única forma encontrada pelos moradores da Invasão do Limoeiro foi adotar os “gatos” nos postes de iluminação pública da Avenida dos Rodoviários, via que liga o Bairro Alphaville ao Alegre. A Cemig já tentou acabar com o fornecimento ilegal e fazer um acordo com todas as famílias, porém não houve um consenso.
José Anacleto explicou que a Prefeitura havia ficado incumbida de fornecer seis padrões de energia para regularizar o fornecimento. Nos horários de pico, entre 17h até as 23h, a energia das ligações irregulares fica instável e os moradores ficam apenas com lâmpadas acesas.
“Nunca nos negamos a pagar pela energia que consumimos. Pelo contrário, queremos ter o direito a uma ligação regular, até porque no início e no final da tarde temos que desligar a geladeira para evitar que os eletrodomésticos e eletrônicos queimem. Os alimentos ficam congelando e descongelando, causando prejuízos para todos que moram na invasão”, declarou a dona de casa Marlene.
Solidariedade
A água que abastece a maioria das casas da Invasão do Limoeiro é levada a cada dois dias pelo caminhão-pipa, sendo fornecida pela Prefeitura Municipal. Contudo, algumas famílias, para desfrutarem de um pouco mais de conforto, como é o caso de José Anacleto, furaram poço artesiano. Ele distribui água para outras cinco famílias e compartilha também a distribuição de energia para os que não tiveram condições de ‘puxar’ energia do poste.
“Todas as famílias do assentamento são trabalhadoras, não tem ninguém morando aqui porque é preguiçoso, mas sim porque não temos condições de pagar por um terreno. Todos sonham com a casa própria. As mães que trabalham fora deixam seus filhos em creches do Alegre ou Limoeiro e para buscá-los precisam descer longe de casa”, contou a dona de casa Marlene.
Como não possuem endereço reconhecido, os moradores buscam suas correspondências na agência dos Correios do Bairro Limoeiro ou então no Centro de Acesita.
Moradia digna
Os moradores da Invasão do Limoeiro afirmaram que estão dispostos e mudarem suas casas de lugar para a urbanização da área. “Não é difícil fazer um projeto para transformar o assentamento em bairro. Se um projeto de pavimentação for feito, vamos obedecer ao que for proposto, desde que todos recebam um lote para morarem dignamente”, declarou José Anacleto.
Elizabete Santos da Silva, 23, foi morar na Invasão quando tinha 13 anos. Hoje ela cria os dois filhos no mesmo local onde cresceu. “É um absurdo o prefeito fazer uma festa como o Carnaval e não fazer ‘merda nenhuma’ pela gente. Nem mesmo material de construção a Prefeitura nos fornece, alegando que vão nos tirar daqui”, reclama.
O único lazer das crianças que moram no local são as aulas de capoeira ministradas por um voluntário residente na Invasão todas as terças, quintas e sábados. Divididas em dois horários por faixa etária.
Enquanto a reportagem do jornal VALE DO AÇO estava no local os moradores Marcos de Almeida Lopes, 32, e Marilene Venceslau, 28, retornavam de uma ida à Prefeitura Municipal. Segundo eles, enquanto eles esperam, foram construídas casas populares no Bairro João XXIII. “O período de chuvas não vai demorar a chegar e vamos ficar novamente alagados e enlameados. Já nos inscrevemos no projeto ‘Minha Casa, Minha Vida’, mas no setor de Habitação da Prefeitura disseram que não há área pública para a construção das casas. Estamos sem solução há 10 anos”, reclama Marilene.
Da lona à casa de tábua
Maria Ângela da Silva, 42, o marido, juntamente com a filha Sthefane dos Santos Silva, 15, e sua neta Claudilandia Patrícia Silva, 12, moram numa precária casa de tábuas construída há 10 anos. A primeira casa que eles ergueram era de lona. Ela só não melhorou o local por medo de ser despejada a qualquer momento. “Investir em melhorias como, se a cada dia chega um falando que vão nos tirar daqui? Não vim morar na invasão porque quis, estou há 11 anos à espera de uma moradia digna”, assegura.
Como Maria está há dois meses sem receber salário algum, a família sobrevive com os R$ 500 que o marido dela recebe como auxiliar de serraria. A mulher explica que foi encostada pelo INSS por ter sofrido infarto em dezembro. Mas parou de receber o benefício por conta de um laudo que não foi enviado para renovar o auxílio.
Nem mesmo um banheiro com chuveiro a família possui. Maria disse que toma banho na casa da filha. A frágil cobertura da casa feita de telhão não é suficiente para evitar a entrada de água em período de chuva.
Como não existe sistema de captação de esgoto, todos os detritos residenciais são jogados em fossas – buracos profundos próximos ao banheiro da casa. E quando eles enchem os moradores jogam terra para tampar a vala e abrem uma nova.
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